Vós sois a luz do mundo.

Dos Sermões de Santo Agostinho (354-430), bispo e doutor da Igreja:

Os apóstolos, meus irmãos, são candeias que nos permitem esperar a vinda do dia de Cristo. O Senhor declara-lhes: «Vós sois a luz do mundo.» E, para que eles não se possam considerar uma luz semelhante àquela da qual foi dito: «Ele era a verdadeira luz que iluminava todo o homem» (Jo 1,9), ensinou-lhes imediatamente qual é a verdadeira luz. Depois de lhes ter anunciado: «Vós sois a luz do mundo», prosseguiu: «Não se acende a candeia para colocá-la debaixo do alqueire.» Chamei-vos luz, diz Ele, mas esclareço: sois apenas uma candeia. Não vos deixeis, pois, levar pelo orgulho, se não quereis ver apagar-se esta cintilação. Não vos coloco debaixo do alqueire, mas coloco-vos em cima do candelabro, para alumiardes tudo com os vossos raios.
Qual é este candelabro que leva esta luz? Vou-vos ensinar. Sede vós mesmos as candeias, e tereis lugar neste candelabro. A cruz de Cristo é um imenso candelabro. Quem quiser brilhar não deve envergonhar-se deste castiçal de madeira. Escutai e compreendereis: o castiçal é a cruz de Cristo.
«Assim brilhe a vossa luz diante dos homens; que eles vejam as vossas boas obras e glorifiquem.» Glorifiquem a quem? Não a ti, porque procurares a glória é quereres apagar-te! «Que eles glorifiquem o vosso Pai que está nos céus». Sim, que eles O glorifiquem, a Ele, ao Pai do céu, vendo a vossas boas obras. Escutai o apóstolo Paulo: «Que nunca eu me glorifique, a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo» (Gl 6,14).

"Eu não sou digno!"

Dos Escritos de São Tomás de Aquino (1225-1274), teólogo dominicano e Doutor da Igreja:


Deus todo-poderoso e eterno, eis que me aproximo do sacramento do Teu Filho único, Nosso Senhor Jesus Cristo. Doente, venho ao médico de Quem a minha vida depende; manchado, à origem da misericórdia; cego, ao fogo da luz eterna; pobre e desprovido de tudo, ao Senhor do céu e da terra.

Imploro, pois, a Tua generosidade imensa e inesgotável a fim de que Te dignes curar as minhas enfermidades, lavar as minhas manchas, iluminar a minha cegueira, compensar a minha indigência, cobrir a minha nudez; e que assim possa receber o pão dos anjos (Sl 77,25), o Reis dos reis, o Senhor dos senhores (1Tm 6,15), com todo o respeito e humildade, toda a contrição e devoção, toda a pureza e fé, toda a determinação de propósitos e a retidão de intenção que a salvação da minha alma exige.

Permite, peço-Te, que não receba simplesmente o sacramento do Corpo e Sangue do Senhor, mas toda a força e eficácia do sacramento. Deus cheio de doçura, permite-me receber de tal maneira o Corpo do Teu Filho único, Nosso Senhor Jesus Cristo, este corpo material que Ele recebeu da Virgem Maria, que mereça ser incorporado no Seu Corpo místico e fazer parte dos seus membros.

Pai cheio de amor, permite que eu possa um dia contemplar de rosto descoberto e por toda a eternidade este Filho bem amado que me preparo para receber agora sob o véu que convém à minha condição de viajante. Ele que, sendo Deus, vive e reina Contigo na unidade do Espírito Santo pelos séculos e séculos. Amém.

Ele em tudo, ele é tudo!

Das Cartas de São Paulino de Nola (355-431), bispo:


Desde a origem do mundo que Cristo sofre em todos os Seus. Ele é «o princípio e o fim» (Ap 1,8); escondido na lei, revelado no Evangelho, Ele é o Senhor «sempre admirável», que sofre e triunfa «nos Seus santos» (2Ts 1,10; Sl 67,36).

Em Abel foi assassinado pelo irmão; em Noé foi ridicularizado pelo filho; em Abraão conheceu o exílio; em Isaac foi oferecido em sacrifício; em Jacó foi reduzido a servo; em José foi vendido; em Moisés foi abandonado e rejeitado; nos profetas foi lapidado e dilacerado; nos apóstolos foi perseguido em terra e no mar; nos Seus inúmeros mártires foi torturado e assassinado.

É Ele quem, ainda hoje, carrega a nossa fraqueza e as nossas doenças, porque Ele é o verdadeiro homem, exposto por nós a todos os males e capaz de tomar a Seu cargo a fraqueza que, sem Ele, seríamos totalmente incapazes de suportar.
É Ele, sim, é Ele que carrega em nós e por nós o peso do mundo para nos libertar dele; e assim, é «na fraqueza que a Minha força se revela totalmente» (2Cor 12,9). É Ele que em ti suporta o desprezo, é Ele que este mundo odeia em ti.

Demos graças ao Senhor, porque se Ele é posto em causa, também é Ele que recebe a vitória (cf. Rm 3,4). Segundo esta palavra da Escritura, é Ele quem triunfa em nós quando, ao tomar a condição de servo, adquire para os Seus servos a graça da liberdade.