Um Rei, um Reino

Dos Sermões de Santo Agostinho (354-430), Bispo e Doutor da Igreja:


Escutai todos, judeus e gentios; escutai, todos os reinos da terra! Não impeço o vosso domínio deste mundo, «o Meu Reino não é deste mundo» (Jo 18,36). Não receeis, portanto, com aquele temor insensato que invadiu Herodes quando lhe anunciaram o Meu nascimento. Não, diz o Salvador, «o Meu Reino não é deste mundo». Vinde todos a um reino que não é deste mundo; vinde pela fé; que o temor não vos torne cruéis. É verdade que, numa profecia, o Filho de Deus disse ao falar do Pai: «Por Ele, fui nomeado rei em Sião, na Sua montanha santa» (Sl 2,6). Mas, esta Sião e esta montanha não são deste mundo.

O que é, com efeito, o Seu Reino? São aqueles que crêem n'Ele, aqueles a quem Ele disse: «Vós não sois do mundo, como Eu também não sou do mundo». E, no entanto, Ele quer que eles estejam no mundo; Ele pede ao Pai: «Não Te peço que os retires do mundo, mas que os livres do Maligno». Porque Ele não disse: «O Meu Reino não está neste mundo» mas sim: «não é deste mundo; se o Meu Reino fosse deste mundo, os Meus servos viriam combater para que eu não fosse entregue» (Jo 18,36).

Com efeito, o Seu reino está verdadeiramente aqui na Terra até ao fim do mundo; até à colheita, o joio está misturado com o trigo (cf. Mt 13,24ss). O Seu reino não é daqui porque Ele é como um viajante neste mundo. Àqueles sobre os quais reina, disse: «Vós não sois do mundo porque Eu vos escolhi do meio do mundo». (Jo 15,19). Portanto, eles eram deste mundo quando ainda não eram o Seu Reino e pertenciam ao príncipe deste mundo (Jo 12,31). Todos aqueles que são engendrados da raça de Adão pecador pertencem a este mundo; todos aqueles que foram regenerados em Jesus Cristo pertencem ao Seu Reino e já não são deste mundo. «Com efeito, Deus arrancou-nos ao poder das trevas e transferiu-nos para o Reino do Seu Filho bem-amado» (Cl 1,13).

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